Religiões afro-brasileiras em Campos dos Goytacazes: territórios, conflitos e resistência

Abstract

A religião e a geografia têm como conexão o fato de ambas serem práticas inatas da humanidade, e, desta conexão surgiu a Geografia da Religião que é um ramo da ciência geográfica que contribui conceitualmente para o entendimento preciso sobre o que são espaços e territórios sagrados, elementos chave da presente pesquisa. Propusemos aqui a construir uma análise dos conflitos territoriais com religiões de comunidades tradicionais de terreiro em Campos dos Goytacazes, entre os anos de 2014 e 2019. Nossos objetivos foram: contextualizar as comunidades tradicionais de terreiro no município; compreender as dinâmicas territoriais a que estão submetidas; analisar a distribuição espacial dos territórios em conflito; e investigar de que forma os povos tradicionais de terreiro organizam-se em prol da manutenção de seus territórios sagrados. Metodologicamente no primeiro momento foi realizado um levantamento bibliográfico, onde percebemos que as categorias de análise geográfica “território” e “territorialidade”, por tratarem de relações de poder e do controle exercido sobre áreas específicas da cidade, seriam de enorme importância na construção da pesquisa. Para isto, contou-se com o apoio do Fórum Municipal de Religiões Afro-Brasileiras (FRAB), que é uma organização que atua na defesa dos povos tradicionais de terreiro. O FRAB facilitou o acesso a documentos internos da organização, bem como permitiu ao autor da pesquisa: participar de reuniões ordinárias e extraordinárias; acompanhar os grupos nas redes sociais; e observar os conflitos e tensões na destituição de lideranças religiosas de seus territórios sagrados por agentes do tráfico. Resultados finais: foram constatados e apurados trinta e quatro casos de conflitos com territórios sagrados de religiões afro-brasileiras sob variadas formas, como: ameaças, restrições de funcionamentos, invasões e fechamentos de terreiros. Constatamos também a existência de formas de resistências individuais e coletivas, que vão desde a prática secreta de sua territorialidade sagrada, até a organização de fóruns voltados às religiões afro-brasileiras e comunidades tradicionais de terreiro de forma coletiva