“Trabalhar na hotelaria não é pra qualquer um”: representações sociais em torno do trabalho em hotéis

Abstract

A teoria das representações sociais fornece conceitos que permitem visibilizar fenômenos psicossociais subjacentes ao trabalho. No turismo, a produção científica sobre os trabalhadores é incipiente e carece de aproximações múltiplas, especialmente as não condicionadas aos interesses mercadológicos, já abundantes na literatura. Este estudo buscou estabelecer uma relação entre o aporte das representações sociais, mais especificamente a partir da abordagem estrutural, e os trabalhadores da hotelaria. Na referida abordagem, concebe-se a organização do conteúdo das representações sociais em um núcleo central e sistema periférico. O objetivo geral desta pesquisa foi apreender o conteúdo e organização das representações sociais de um grupo de trabalhadores de hotéis em torno de seu trabalho. A opção metodológica recaiu sobre a pesquisa qualitativa descritiva com o aporte teórico da pesquisa bibliográfica e com respaldo da pesquisa empírica. Para empreender esta última delimitou-se como sujeitos produtores das representações sociais os trabalhadores de hotéis na cidade do Rio de Janeiro. Empregou-se em um questionário a técnica de associação livre de palavras, de modo a identificar os elementos constitutivos das representações, bem como sua organização. A partir das respostas válidas de 203 trabalhadores, empreendeu-se a análise prototípica e de similitude das representações. Também foram conduzidas 9 entrevistas virtuais em profundidade, de modo a esmiuçar o universo de compreensão das evocações dos trabalhadores e os significados atribuídos ao trabalho em hotéis. Lançou-se mão da análise temática para analisar as narrativas dos sujeitos de forma articulada às evocações centrais e periféricas apresentadas. Os resultados sugerem que trabalhar em hotéis é uma experiência permeada por desafios relacionados à convivência com colegas e hóspedes, à intensidade e à extensão das jornadas de trabalho. As representações são marcadas por um núcleo coerente e um sistema periférico repleto de elementos ambivalentes, como: cansativo e estressante, mas prazeroso e divertido – despontando a dialogicidade como primazia dessa concepção ambígua. Ademais, o verbo servir manifesta sua centralidade de forma contundente e sua abrangência polissêmica