Relatos interiores, experiências cotidianas: a educação não-escolar em uma cidade pequena

Abstract

Considerando que a educação não se restringe aos muros escolares e que os praticantes dos cotidianos inventam novos usos enquanto habitam os espaços, o presente estudo teve como objetivo investigar a educação não-escolar em uma pequena cidade do interior do estado do Rio de Janeiro. Este objetivo esteve relacionado ao interesse por compreender como se constroem outros sentidos sociais em um espaço público, cuja ocorrência pode ser observada na praça de uma cidade pequena. A pesquisa se justifica sob quatro aspectos: (i) a legitimação das culturas locais, uma vez que a versão hegemônica da história, em grande parte, atua com o registro do que se passa nos grandes centros e em momentos considerados históricos; (ii) a socialização de práticas educativas não-escolares, sinalizando a importância de sua ocorrência e sugerindo que a escola também as observe e incorpore; (iii) o registro de eventos da vida cotidiana que se configuram como realidade não-documentada; (iv) a compreensão de outras formas de organização do espaço e sua utilização como espaço de aprendizagem em uma praça pública da cidade de Miracema/RJ. O estudo recorreu à pesquisa documental e às orientações metodológicas da história oral, de forma a produzir dados que registrassem o traçado histórico do lugar, e com o intuito de acessar a história narrada desde o ponto de vista dos sujeitos. Foram utilizadas, durante o trabalho de campo na praça, orientações da etnografia como metodologia de pesquisa, a qual visa produzir dados de conhecimento antropológico, fazendo uso de alguns procedimentos não apenas técnicos, como também epistêmicos, visto que visam à produção do conhecimento e geração de informações, próprios da pesquisa etnográfica, como: a observação, o registro em diário de campo, a descrição densa e a produção de imagens, vinculadas agora a outros campos teóricos de interpretação da realidade social, que não a Antropologia. O campo de pesquisa foi a praça “Dona Ermelinda”, localizada no centro da cidade de Miracema/RJ. O trabalho contou com a influência de diversos teóricos, dentre eles: Michel de Certeau, Henri Lefebvre, Jorge Larrosa, Michel de Foucault e Boaventura de Sousa Santos. Este estudo possibilitou a compreensão de que a pesquisa em cotidianos se distancia dos modelos rígidos, cartesianos e lineares. Nos mostrou que há outros saberes e outras formas de enxergar o mundo, e que se trata de um processo que nos surpreende e que de alguma forma nos liberta. Além disso, percebemos que existe uma história não documentada, escrita pelos praticantes que reconstroem os sentidos e a memória. Concluímos que a educação não se restringe aos muros escolares, e que a cidade pequena é um dos espaçostempos do aprender.