“One Chicago”: instituições ficcionais e Comfort Series na televisão estadunidense

Abstract

Esta tese explora um conjunto de séries televisivas estadunidenses caracterizadas como Comfort Series. Embora apresentem grande sucesso de público e constituam a base da programação televisiva, essas produções têm sido sistematicamente ignoradas pela pesquisa. Tradicionalmente, o sucesso dessas produções é explicado por uma (suposta) falta de qualidade estética e narrativa, mas aqui propomos que esse sucesso está relacionado as suas qualidades sociológicas. As Comfort Series são produções que apresentam uma narrativa padronizada e proporcionam ao telespectador certa sensação de ordem e segurança que se traduz em conforto. Para tanto, elas reiteram mitos em suas narrativas e reforçam determinados valores consensuais da sociedade estadunidense. Em contrapartida, suas metanarrativas são estruturadas em torno de instituições ficcionais funcionais. Partindo da discussão sobre construção social da realidade, defendemos que as instituições ficcionais contribuem para legitimar instituições do mundo real. Nesse processo, essas entidades ficcionais influenciam as expectativas dos indivíduos em relação às instituições reais. Dado o papel estruturante da ficção na realidade, propomos uma "sociologia das instituições ficcionais”. Examinamos 32 episódios dos dramas da franquia Chicago da NBC, composta por: Chicago Fire, Chicago P.D., Chicago Med e Chicago Justice. Problematizamos a ficcionalização de quatro instituições diferentes (corpo de bombeiros, polícia, hospital e promotoria) e analisamos a cidade televisual de Chicago. Defendemos que essas séries aproximam os espectadores das instituições do mundo real, revelando suas rotinas internas, organização e hierarquias. Essas produções, assim, atuam no processo de construção social das instituições, por meio da padronização da experiência dos seus profissionais, rituais e procedimentos que a compõem. A presente discussão destaca a relevância sociológica das instituições sociais ficcionais e também abre caminhos analíticos para o campo dos estudos da televisão e suas intersecções com a sociologia da mídia.