A construcionalização de grau intensivo [[p(a)ra lá de] [X]] no português

Abstract

Nesta pesquisa, defendemos a tese central de que há um novo pareamento de forma e significado, ou seja, uma nova construção da rede linguística da categoria de grau intensivo do português, codificada como [[p(a)ra lá de]intens [X]]gi. Sendo assim, na presente tese, dedicamo-nos à compreensão de como [[p(a)ra lá de]intens [X]]gi se convencionaliza na língua com sentido procedural, atuando na intensificação de conceitos mais abstratos. Para tanto, com o aporte teórico da Linguística Funcional Centrada no Uso (CROFT, 2001; BYBEE, 2010; MARTELOTTA, 2011; TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013; FURTADO DA CUNHA; BISPO; SILVA, 2013; ROSÁRIO; OLIVEIRA, 2016 entre outros), descrevemos e analisamos o processo de construcionalização gramatical, nos termos de Traugott e Trousdale (2013), que leva à formação, emergência e convencionalização da construção em foco. Buscamos investigar os níveis de gradualidade da mudança, isto é, seus micropassos (DIEWALD, 2002, 2006) e nanopassos (ROSA, 2019) na trajetória da língua, bem como examinar os níveis de gradiência identificados no século XXI. Assumimos, portanto, um viés pancrônico de análise, conjugando as perspectivas diacrônica e sincrônica. Partimos da hipótese de que [[p(a)ra lá de]intens [X]]gi se origina e herda traços de usos referenciais da construção mais básica [[para lá] [de XSN]]loc, usada na indicação de afastamento espacial e temporal em relação a um marco X. Visando atingir o cumprimento dos objetivos estabelecidos para a investigação pancrônica do nosso objeto de estudo, utilizamos dados do Corpus do Português, analisando textos do século XIV ao XXI. Nossos resultados confirmam, por meio da análise de dados da língua em uso, a tese central de que [[p(a)ra lá de]intens [X]]gi é uma nova construção, recrutada para estabelecer noção intensiva no português e demonstra que esta emerge no português brasileiro no século XX. Tal emergência se dá a partir de um gradual processo de mudança, que envolve neoanálises, analogizações e extensões metafóricas com o padrão [[para lá] [de X]], usado inicialmente em contextos de circunstanciação adverbial locativa. Constatamos também, no século XXI, um conjunto de construções com distintas funções na língua que, por compartilharem traços formais e semânticos, podem integrar uma rede cujo esquema mais alto e virtual é [p(a)ra lá de X]