Condições paleoambientais associadas à ocorrência de linhas de pedra em latossolo no Médio Vale do Rio Paraíba do Sul-RJ

Abstract

O Vale do Paraíba do Sul, localizado entre as duas maiores metrópoles do Brasil, compreende uma área bastante alterada, onde a composição original de Mata Atlântica é, atualmente, representada apenas por pequenos mosaicos numa paisagem de extensos campos de pastagem. Diversos estudos são realizados para compreender não só as causas e consequências da ação do homem, como também a evolução e transformação da paisagem, identificando os processos modeladores do relevo. Nesse contexto, o solo torna-se ferramenta essencial, podendo ser estudado para diversas finalidades sendo que alguns de seus componentes podem possuir diferentes hipóteses de formação, como é o caso das linhas de pedra ou stone-lines. A origem alóctone ou autóctone dessas feições ainda desperta polêmica no meio científico. Dessa forma, este estudo buscou reconstituir as condições paleoambientais e inferir possíveis mudanças no clima e na vegetação, associadas à ocorrência de linhas de pedra, ocorridas durante o Quaternário no Médio Vale do Paraíba do Sul, Estado do Rio de Janeiro, através de dados pedológicos, de assembleias fitolíticas, de isótopos estáveis de carbono e de datações por 14C AMS. As análises fitolíticas e isotópicas não identificaram mudanças no tipo de formação vegetal durante o período observado, ou seja, apresentando somente variações em sua composição (maior ou menor quantidade de lenhosas ou de herbáceas), decorrentes de períodos relativamente mais secos ou mais úmidos. O cenário de evolução da área de estudo identificou uma primeira fase, anterior a 8880 anos cal AP, com um ambiente mais seco e mais frio que o atual e vegetação esparsa, seguida de uma fase com um ambiente mais úmido e vegetação mais arbórea. Os períodos de 8880 anos cal AP e 8380 anos cal AP foram caracterizados como mais secos que o anterior, quando se dá a formação das linhas de pedra. A partir de 2920 anos cal AP até o presente, as análises fitolíticas inferem um ambiente progressivamente mais úmido. A hipótese relacionada à gênese das linhas de pedra é a de coluvionamento atrelado a um período de chuvas concentradas, com competência para transportar material mais grosseiro, mas de pequena distância, já que os seixos analisados são angulosos e subangulosos, indicando pouco retrabalhamento. Os resultados foram muito promissores para a utilização de fitólitos na inferência de condições paleoambientais que ocasionaram a formação de linhas de pedra, principalmente quando associados a outros proxies.