Domitilia Barrios de Chungara: um olhar decolonial para o testemunho feminino latino-americano

Abstract

Parte da intensa trajetória de vida e engajamento político de Domitila Barrios de Chungara (1937-2012) foi trazida ao público leitor internacional com a publicação de “Si me permiten hablar...”. Testimonio de Domitila, una mujer de las minas de Bolivia (1977). O presente trabalho explora como a líder boliviana fez uso da vertente latino-americana do gênero testemunho, também conhecida como testimonio, para ser ouvida por autoridades e conscientizar as pessoas que viviam em situações de precariedade, semelhantes à sua, pela América Latina. Para tratar do gênero testemunho, contaremos com o suporte dos estudos de Elzbieta Sklodowska (1992, 2015), Luisa Campuzano (1999) e Livia Reis (1999, 2002, 2009). Para abordar a coautoria entre a mediadora e a testemunha na construção do livro, esta dissertação se afasta do olhar exótico dos trabalhos publicados nas últimas décadas do século XX pelos estudos culturais norte-americanos e realiza a análise do texto da líder boliviana pelo viés dos estudos decoloniais, com apoio dos trabalhos de Aníbal Quijano (2005, 2009), Walter Mignolo (1994-1995, 2008), Catherine Walsh (2005) e Maria Lugones (2008). Também é de grande importância para esta etapa a análise dos paratextos do livro, tema esmiuçado por Gérard Genette (2009). Abordamos, ainda, o documentário argentino Mujeres de la mina (2014), a partir de Bill Nichols (2020), já que Domitila fez uso de diversos formatos, entre eles o cinematográfico, para testemunhar sobre a sua condição e a de seus vizinhos do acampamento mineiro Siglo XX.