ARQUITETURA, PODER E RESISTÊNCIA NAS FAZENDAS CAFEEIRAS ESCRAVOCRATAS DO ESPÍRITO SANTO
Quadrilátero funcional
Panoptismo
Violência simbólica
Poder disciplinar
Relações de poder
Resistências
Fazenda de café
Escravidão
Resistência
Espírito Santo (Estado)
Coffee farms architecture
Functional quadrangle
Panopticon
Symbolic violence
Disciplinary power
Power relations
Resistance
Abstract
A instituição do cativeiro de africanos e o racismo de Estado, estratégia colonizadora de
Portugal, organizaram a sociedade brasileira e seus modos produtivos até o final do século XIX.
O sistema produtivo de exploração implantado por Portugal no Brasil tinha por objetivo
produzir excedentes destinados aos mercados consumidores europeus. Diante da tarefa
colonizadora e mercantilista, a mão de obra escravizada, autorizada pelo eurocentrismo,
justificava o sistema de opressão e violência com as populações violentamente retiradas de
várias regiões do continente africano. A cultura do café iniciada comercialmente na região do
Vale do Paraíba, irá modificar a sociedade brasileira da época. Esta “nova sociedade” e seus
sujeitos têm como características o refinamento de seus costumes pela mudança dos hábitos de
consumo e a brutalidade nas relações com os trabalhadores escravizados. As relações com esses
trabalhadores se davam em uma sociedade altamente hierarquizada, controlada pelos grandes
fazendeiros e organizada espacialmente através do dispositivo panóptico, fazendo funcionar
uma frágil ilusão de controle social da população de escravizados naquele território. Este estudo
lança o olhar para o sul da província do Espírito Santo, zona de expansão agrícola da cultura
do café a partir do segundo quartel do século XIX, tendo como objetivo compreender em que
contextos são estabelecidos os tensionamentos entre senhores e escravizados nesta região
geográfica. Partimos da hipótese inicial de que no século XIX a arquitetura das fazendas
escravocratas brasileiras, em especial as capixabas, refletia os efeitos de poder dessa sociedade.
Assim, para problematizarmos as forças que sustentavam este modo de organização societal
que maximiza as desigualdades, buscaremos aproximar duas perspectivas epistemológicas para
pensarmos os usos e o funcionamento de formas e efeitos de poder: o pensamento de Michel
Foucault que nos permite refletir sobre poder soberano e disciplinar no desejo de manutenção
do sistema de privilégios escravocrata e o de Pierre Bourdieu, quando nos oferece como terreno
fértil a categoria de análise “violência simbólica” como possibilidade de ampliarmos a
conversa. Tentaremos responder a seguinte questão: de que maneira se manifesta o poder –
simbólico e/ou soberano e/ou disciplinar –, nas relações entre a elite escravocrata e os negros
escravizados no sul do Espírito Santo do século XIX e que rastros podemos percorrer para
compreender as resistências dos sujeitos escravizados na fragilização desta prática e uso do
poder. Buscaremos através de um trabalho de escavação híbrida, compreender como eram
estabelecidas as relações de poder entre o coronel – no mix do poder soberano, disciplinar e
simbólico – e os sujeitos escravizados – negros cativos. Pretendemos dar passagem nesta tese
a vozes que foram silenciadas e invisibilizadas em uma versão da história brasileira. Para este
trabalho de investigação, debruçaremos em fontes documentais, orais e memórias de
populações quilombolas. Acreditamos que esse híbrido de possibilidades investigativas poderá
contribuir com presenças, saberes ancestrais e suas lutas a favor de um mundo mais justo e
igualitário. Qualificando as fontes orais e as memórias das resistências em pé de igualdade com
as fontes documentais de arquivos e acervos, buscaremos nessas tradições que são
fundamentadas na transmissão oral, os argumentos que talvez nos faltem nas fontes
documentais. Portanto, esta pesquisa tem como objetivo principal estudar e também
problematizar a arquitetura rural capixaba do século XIX, em especial as fazendas cafeeiras
escravocratas do sul do estado, buscando na complexidade do objeto arquitetônico compreender
os usos e as dimensões políticas dos conceitos: quadrilátero funcional, dispositivo panóptico e
relações de poder.
[Texto sem Formatação]
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Document type
TeseSource
HAUTEQUESTT FILHO, Genildo Coelho. Arquitetura, poder e resistência nas fazendas cafeeiras escravocratas do Espírito Santo. 2021. 240 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Escola de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2021.Subject(s)
Arquitetura do caféQuadrilátero funcional
Panoptismo
Violência simbólica
Poder disciplinar
Relações de poder
Resistências
Fazenda de café
Escravidão
Resistência
Espírito Santo (Estado)
Coffee farms architecture
Functional quadrangle
Panopticon
Symbolic violence
Disciplinary power
Power relations
Resistance