Os cinejornais de teor turístico produzidos pela Agência Nacional (1964-1985)

Abstract

Esta dissertação trata de cinejornais de teor turístico produzidos pela Agência Nacional durante o período da ditadura militar no Brasil (1964-1985). O problema central da pesquisa consiste em identificar quais são as singularidades existentes nesses filmes e o objetivo geral é analisar, por meio desses cinejornais, as ações dos governos ditatoriais militares em prol de um modelo de desenvolvimento que tinha o turismo como uma de suas expressões. Os objetivos específicos do trabalho são caracterizar os conteúdos presentes e suas formas de organização (montagem, narração, enquadramentos) e identificar os ordenamentos territoriais do espaço turístico brasileiro valorizados nos filmes, confrontando-os com políticas públicas em vigor durante o período ditatorial. O trabalho para realizar a pesquisa foi desenvolvido no entrecruzamento de três campos de saber: Turismo, História e Cinema, conjugando diferentes metodologias de pesquisa e de análise e interpretação dos dados. O primeiro aporte teórico é o do método indiciário, proposto pelo historiador italiano Carlo Ginzburg (1989). Do campo de estudos do Turismo foram utilizados tanto trabalhos que esmiúçam as políticas públicas do setor, quanto aqueles que exploram as relações entre turismo e cinema. A contribuição proveniente da área do Cinema é a análise fílmica, aqui amparada na obra de Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété (2012). A quarta contribuição veio novamente do campo da história – a metodologia da história oral, conforme estabelecida nos trabalhos de Verena Alberti (2004, 2005, 2012). Utilizou-se ainda o referencial teórico produzido por Sofia Sampaio (2014, 20115a, 2015b), do campo da história do cinema, que emprega duas expressões que se tornaram essenciais para as reflexões desenvolvidas nesta dissertação: “outros filmes” e “filmes de teor turístico ou de viagem”. Entre os resultados alcançados destacam-se: a identificação de um conjunto significativo de filmes de teor turístico e de viagem custodiados pelo Arquivo Nacional; a confirmação da possibilidade de afastar o filme turístico das concepções que o situam exclusivamente na esfera dos filmes promocionais; a caracterização de aspectos da produção de cinejornais pela Agência Nacional; a observação sobre como se estabeleceu, nos cinejornais estudados, um continuum de “grandes feitos”, supostamente alcançados pelos governos militares, que incluía o turismo e outras atividades econômicas; a participação da Agência Nacional na implantação de políticas públicas de turismo e de proteção ao patrimônio histórico e artístico nacional; e o nexo entre turismo e cinema no período da ditadura militar no Brasil estabelecido pelo papel reservado aos filmes para propaganda do país.