O circuito da herança africana como caminho para a preservação da memória? Patrimônio e narrativas urbanas em disputa na zona portuária

Abstract

É sabido que a região compreendida enquanto Pequena África, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, foi palco de grandes transformações e intervenções neoliberais, principalmente em virtude dos grandes eventos sediados na cidade, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Essa série de “revitalizações” urbanas promovidas, que visam a expansão da sociedade de consumo na cidade neoliberal, além de expor um projeto que cataliza a gentrificação, desconsideram práticas culturais e identitárias, alimentando-se de símbolos e elementos que são favoráveis à apropriação e mercantilização da cidade, da sua memória e do seu patrimônio. Todavia, como forma de garantir a persistência dessas práticas culturais e identitárias, se consolidam novos circuitos culturais que buscam manter viva a memória dessa região e de seus antigos frequentadores, que ajudaram a construir esse espaço urbano vivenciado. Por isso, o presente trabalho, num primeiro momento, discute as dinâmicas envolvidas no empreendedorismo urbano, aplicado na grande gestão Cesar Maia-Eduardo Paes (1993-2016), principalmente a partir do Projeto Porto Maravilha. Num segundo capítulo, analisam-se as relações entre memória e patrimônio na disputa pelas narrativas urbanas, colocadas em evidência na Pequena África. Por fim, no terceiro capítulo investiga-se o Circuito de Herança Africana, promovido pelo Instituto Pretos Novos (IPN) como um caminho possível à preservação da memória dessa região, por meio da explanação de três pontos do trajeto, sendo eles a Pedra do Sal, o Cais do Valongo e o próprio Instituto Pretos Novos, assim como entrevistas com os participantes e suas observações ao longo do percurso feito.