Entre água e deserto: travessias em Azul corvo, de Adriana Lisboa, e Mar azul, de Paloma Vidal

Abstract

Empreendendo um diálogo entre os romances Azul corvo (2010), de Adriana Lisboa, e Mar azul (2012), de Paloma Vidal, a presente pesquisa realizou a reflexão acerca da relação entre a água, o deserto e a procura pela compreensão das histórias parental e das protagonistas. Durante a busca por entendimento de suas subjetividades, paisagens áridas, mares, rios e piscinas descortinam-se como testemunhas de diversos instantes que integram a construção identitária dessas mulheres. Tanto a presença quanto a ausência do ambiente aquático suscitam as memórias dos momentos partilhados com pais e mães ausentes, viabilizam a percepção das próprias mudanças corporais, além de servir de ponte, conectando as personagens estrangeiras aos países de origem e possibilitando a diminuição da dor da dúplice orfandade que as aflige. Ao evocar as rememorações, o espaço aquático acaba por fazer emergir a violência provocada por ditaduras militares no Brasil e na Argentina, durante a segunda metade do século XX, e que, direta ou indiretamente, atinge as personagens principais, abalando suas identidades.