Evolução paleogeográfica de cabos sedimentares durante o holoceno tardio: uma abordagem multimétodo do Cabo São Tomé (complexo deltaico do Rio Paraíba do Sul)

Abstract

Em costas dominadas por ondas é comum a existência de barreiras costeiras, que podem ocorrer enquanto tipologias distintas a depender dos processos evolutivos atuantes. Tais barreiras podem se formar de maneira tal a compor um cabo sedimentar, feição essencialmente compreendida por cristas de praia e/ou dunas que se apresentam de maneira projetada à linha de costa. O Cabo de São Tomé é um exemplo de cabo sedimentar inserido no contexto do Complexo Deltaico do Rio Paraíba do Sul (CDRPS), litoral do estado do Rio de Janeiro, que é constituído por sistemas de barreiras arenosas. Deste modo, o objetivo do presente trabalho é avaliar o comportamento evolutivo das barreiras arenosas costeiras que compõem parte do Cabo de São Tomé a partir de dados geomorfológicos, geofísicos e geocronológicos. Os procedimentos metodológicos envolveram o mapeamento geomorfológico, o levantamento de perfis topográficos, a aquisição de perfis de radar de penetração do solo (GPR) e a datação de amostras através da Luminescência Opticamente Estimulada (LOE). Os resultados mostraram que o cabo sedimentar é caracterizado por uma alternância entre barrier spits e beach ridges, que, naturalmente, apresentam arquitetura deposicional interna distinta relativa aos processos que originaram cada uma dessas tipologias de barreiras. A alternância identificada entre barrier spits e beach ridges foi associada à intercalação entre períodos com predomínio de transporte longitudinal e de transporte transversal, que por sua vez foi interpretado como resultado de mudanças no clima de ondas local. Tais modificações foram associadas a ocorrências paleoambientais climato-oceanográficas, como a intensificação do ENOS e/ou da frequência e intensidade das frentes frias oriundas do quadrante sul, que geram alterações no parâmetro de difusividade de ondas e consequentemente na resultante de transporte litorâneo no local. A partir das idades obtidas através da LOE, foi possível determinar o intervalo temporal de desenvolvimento do Cabo de São Tomé, uma evolução de alta complexidade nos processos atuantes que ocorreu durante os últimos ~ 2700 anos, e três principais fases (entre ~2700 a ~2200 anos; ~2100 anos; desde ~1900 anos). Desta forma, a presente tese consegue atingir o objetivo geral de avaliar o comportamento evolutivo das barreiras arenosas costeiras que compõem o Cabo de São Tomé, reafirmando o potencial da utilização consorciada de dados geomorfológicos, geofísicos e geocronológicos, bem como demonstra a potencialidade dos cabos sedimentares enquanto geoarquivos.