Neurociências e saúde pública: respostas emocionais evocadas pela visualização de alimentos ultraprocessados e innatura/minimamente processados

Abstract

Recentemente, a obesidade foi incluída dentro de um conceito mais amplo denominado de Sindemia Global, envolvendo de forma sinérgica a desnutrição e mudanças climáticas. A relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP), a promoção de ambientes alimentares não saudáveis e a Sindemia Global constitui um árduo desafio aos órgãos de saúde pública. Os AUPs são promovidos através de campanhas de marketing agressivas, além de serem hiperpalatáveis devido a combinação de açúcares, gorduras e aditivos alimentares. A hiperpalatabilidade desses alimentos pode promover fortes reações emocionais que impulsionam o seu consumo em detrimento de alimentos in natura ou minimamente processados (MP). O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta emocional evocada por pistasvisuais de AUP e de alimentos in natura/ MP e a sua relação com o desejo de consumo. Os participantes (n = 174; 144 mulheres; Midade =20,7 anos; DP = 4,35) realizaram duas tarefas. Na primeira tarefa, foi aplicada a escala Self Assessment Manikin (SAM) para avaliar a resposta emocional durante a visualização de 16 imagens de alimentos (8 AUP e 8 in natura/MP) em conjunto com 74 imagens de outras categorias afetivas. Na segunda tarefa, os participantes visualizaram as mesmas imagens de alimentos e classificaram seu desejo de consumir o alimento representado na imagem. Cada imagem foi plotada em um plano cartesiano baseado nos valores de valência e ativação obtidos através da escala SAM, resultando em um espaço afetivo. Imagens de alimentos localizaram-se na porção superior do espaço afetivo, representado pela motivação apetitiva. Desta forma, AUP evocam uma motivação apetitiva de forma mais intensa que imagens contendo alimentos in natura/MP, além de maior desejo de consumo. Também foi encontrada associação entre a motivação apetitiva e desejo de consumirAUP em relação aos alimentos in natura/MP. Esses resultados contribuem para o entendimentodo papel das emoções no consumo de AUP em detrimento de alimentos in natura/ MP, podendo contribuir para estratégias de saúde pública que visam promover ambientes alimentares saudáveis e sustentáveis.