Avaliação do potencial terapêutico adjuvante da canela em portadores de diabetes mellitus: uma revisão sistemática

Abstract

O diabetes mellitus (DM) é um grupo de doenças endocrinometabólicas que culminam na hiperglicemia. Para tratar a doença, se faz necessário o uso de medicamentos concomitante à mudança de hábitos alimentares e prática de exercícios físicos. Entretanto, muitos pacientes não são controlados e o tratamento farmacológico promove efeitos adversos que reduzem a adesão do paciente à terapia. Dessa forma, a busca de produtos naturais que não causem efeitos secundários indesejados com potencial terapêutico capazes de auxiliar no controle glicêmico vem crescendo a cada ano. A canela (Cinnamomum sp) tem mostrado capacidade de diminuir a glicemia de pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Seus compostos fenólicos são insulinomiméticos, atuando no receptor tirosina quinase, na fosforilação do receptor de insulina e interferem na ação da enzima glicogênio sintase, o que levaria ao controle glicêmico. Desta forma, este estudo realizou uma revisão sistemática da literatura utilizando ensaios clínicos randomizados (ECR) para analisar o potencial terapêutico do consumo de canela como adjuvante no tratamento de pacientes com DM2, de artigos publicados nos idiomas inglês, português e espanhol, de acordo com o protocolo PRISMA. Foram utilizadas as bases de dados Pubmed, Lilacs, Ovid MEDLINE e EMBASE para busca de artigos publicados no período entre 2000 e 2021. Dezessete estudos foram incluídos e, destes, oito (47,06%) estudaram o efeito da Cinnamomum cassia na dose mínima de 1g/dia. Destes oito estudos, quatro observaram diminuição significativa sobre os níveis de glicose e HbA1c. Dois observaram melhora do perfil lipídico. Dois observaram melhora da insulinemia com o uso de canela (não informada e C. verum, respectivamente). Nenhum dos estudos observou vantagem na suplementação de C. cassia sobre a composição corporal. Dois estudos (11,8%) utilizaram a canela de Ceilão (C. zeylanicum ou C. verum) na dose de 3g/d, e somente um deles observou melhora na glicose, insulina, HOMA-IR e HbA1c. Vafa et al. (2012) obtiveram melhora intragrupo em relação à glicose, HbA1c, composição corporal e perfil lipídico. De acordo com os resultados obtidos é possível constatar que o efeito adjuvante da canela no tratamento farmacológico de portadores de DM2 varia conforme a dose, tipo de canela utilizada, idade, nacionalidade e etnia, embora não informada, dos participantes dos ensaios, duração do estudo, medicamentos utilizados, tempo de diagnóstico e presença de comorbidades. Atualmente, no Brasil, são escassos os estudos que avaliam o consumo de canela nessa população. Existem dúvidas se os achados de estudos internacionais podem ser generalizados para a população brasileira, por suas diferentes características climáticas, clínicas, socioeconômicas e nutricionais que poderiam afetar os desfechos estudados, além da baixa escolaridade, baixa renda, menor expectativa de vida, acesso limitado a serviços de saúde, a sobrecarga e sucateamento do SUS, tratamento inadequado ou tardio do diabetes mellitus. Além disso, as doses de canela utilizadas são superiores às do consumo cultural e habitual do brasileiro. Portanto, são necessários mais estudos a longo prazo que avaliem o efeito da canela sobre o metabolismo destes indivíduos para que ela seja utilizada com segurança na prática clínica.