Análise da sobrevida geral em pacientes adultos jovens com carcinoma de células escamosas de boca atendidos no inca no período de 2001-2003

Abstract

Estudos recentes descrevem o aparecimento de CCE de boca em pacientes adultos jovens, com menos de 40 anos, representando aproximadamente 6% de todos os casos de câncer de boca. Há controvérsias relacionadas aos fatores de risco e etiológicos, bem como ao comportamento biológico do câncer de boca nesse grupo de pacientes quando comparados aos dados bem estabelecidos em pacientes com idade mais avançada. Esse trabalho teve como objetivo verificar a sobrevida global em pacientes adultos jovens diagnosticados com carcinoma de células escamosas (CCE) de boca no Instituto Nacional de Cancer (INCA) entre 2001 e 2003. Foi realizado um estudo retrospectivo em prontuários de pacientes com CCE de boca primário diagnosticados no período de 2001 a 2003, no Instituto Nacional do Câncer, Rio de Janeiro. Inicialmente foram selecionados 1846 prontuários de pacientes com diagnóstico de câncer de boca e orofaringe da base de dados do Departamento de Patologia do INCA. Após aplicados os critérios de inclusão e exclusão foi estabelecida o banco de dados final de 685 pacientes para levantamento de dados sócio-demográficos e clínico-patológicos. Foi feita a análise descritiva do banco de dados e aplicado o teste do qui-quadrado para comparação das variáveis em relação à idade. Análise de sobrevida usando o método Kaplan- Meier foi realizada nos pacientes adultos jovens (< 40 anos) com CCE de boca e o teste de log-rank, para comparação das curvas. O método de regressão de Cox foi utilizado para identificar as variáveis independentes. As decisões estatísticas foram tomadas ao nível de significância de 0,05 e para a análise estatística utilizou-se o software SPSS (Statistic Package for Social Sciences) versão 10.0. A análise dos 685 casos do estudo revelou predomínio do sexo masculino, com 533 casos (77,81%). A idade variou de 17 a 101 anos, com idade média de 59,1 anos, sendo 38 pacientes (5,54%) com idade igual ou inferior a 40 anos. Foram acometidos principalmente pacientes brancos (n=393, 57,37%), analfabetos ou que estudaram até o ensino fundamental (n=571, 84,72%), tabagistas (n=509, 74,31%) e etilistas (n=423, 61,75%). A localização anatômica mais acometida foi a língua (n=352, 51,39%). Em comparação com pacientes acima de 40 anos, os pacientes jovens com diagnóstico de CCE de boca apresentaram maior escolaridade (p=0,006), estádio patológico mais avançado (p=0,037) e maior proporção de tratamento com radio e quimioterapia (p=0,002). A análise de sobrevida global não revelou diferença significativa entre os grupos, contudo no grupo de pacientes adultos jovens apresentaram melhor sobrevida (p<0,05) os pacientes tratados com cirurgia, de maior escolaridade, com estádio clínico inicial (I e II), tumores de menor diâmetro (T1 e T2) e sem acometimento de linfonodos ao exame clínico (cN0). O modelo de Cox revelou que o tabagismo, o etilismo e o acometimento de linfonodos ao exame clínico inicial (cN inicial) podem ser considerados fatores prognósticos independentes para pior sobrevida global no grupo de pacientes jovens. Com base nesses resultados conclui-se que o perfil de pacientes adultos jovens com CCE de boca apresenta-se distinto quanto ao nível de escolaridade (maior) e por mostrar uma maior tendência para localização em língua. Quanto aos fatores prognósticos (tabagismo, etilismo e acometimento de linfonodos) mostram-se semelhantes aos idosos. A sobrevida global foi semelhante em pacientes jovens quando comparada aos pacientes com idade mais avançada.