Perfil clínico e evolutivo de pacientes atendidos com suspeita de coqueluche no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Abstract

Introdução: A coqueluche é uma doença causada pela Bordetella pertussis, de distribuição universal e alta transmissibilidade e importante causa de morbimortalidade infantil, principalmente em lactentes jovens. No Brasil, no período de 2010 a 2015 foram notificados mais de 26 mil casos. Dos 423 óbitos, atribuídos à doença, registrados nesse período, 418 (98,8%) ocorreram em lactentes abaixo de 1 ano de idade. Os testes diagnósticos são caros e muitas vezes não disponíveis em todos os serviços e sua confirmação diagnóstica permanece um desafio. Objetivos: Descrever os aspectos clínicos e epidemiológicos de pacientes atendidos com suspeita de coqueluche em hospital pediátrico, evolução clínica e desfecho e avaliar possível associação entre variáveis clínicas e/ou laboratoriais iniciais e desfecho desfavorável, óbito. Método: Estudo longitudinal observacional descritivo retrospectivo realizado no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG/UFRJ), no período de 2010 a 2015. As informações foram obtidas da Ficha de Investigação Epidemiológica do SINAN (Anexo1) e dos prontuários desses pacientes. Os dados foram inseridos e analisados no Epi Info® versão 3.5.4. Resultados: Foram notificadas 64 crianças com suspeita de coqueluche. A faixa etária mais acometida foi o lactente abaixo de 6 meses de idade (45/64; 70%), com ligeira predominância no sexo feminino (M/F=0,8). Os sintomas relatados foram tosse (64/64; 100%), paroxismo (53/64; 82%), febre baixa ou ausente (39/64; 62%) e cianose (48/64; 75%). Dos 58 pacientes com registro de estado vacinal, 48 (84%) tinham menos de 3 doses de vacina contra coqueluche. Nos exames laboratoriais iniciais, 31/64 (48%) pacientes apresentavam contagem de leucócitos acima de 20.000/mm3 e 30/63 (33%) contagem de linfócitos acima de 10.000/mm3. Dos 49 laudos radiológicos registrados, 22 (45%) pacientes tinham imagem radiológica de infiltrado intersticial. Foi indicada internação para 61/64 (95%) pacientes, sendo um transferido para outra unidade por falta de leito hospitalar. Dos 60 pacientes internados no IPPMG, 22 (36%) apresentaram complicação, sendo a pneumonia responsável por 86% (19/22). Dos 63 pacientes acompanhados no IPPMG, 7 (11%) evoluíram para óbito e 85% destes tinham menos de 6 meses de idade. As médias dos tempos de internação e de ventilação mecânica foram 11,3 e 11,2 dias respectivamente. Foi possível o envio de 36 amostras de swab de secreção nasofaringea para o Laboratório Central Noel Nutels do Rio de Janeiro (LACEN/RJ), dos quais nenhum teve resultado positivo para Bordetella pertussis. O relato de cianose e a contagem de leucócitos acima de 40.000/mm3, tiveram associação positiva com desfecho desfavorável, óbito. Discussão e conclusões: Os resultados encontrados estão em concordância com outros estudos. Apesar de ser doença imunoprevenível, permanece importante problema de saúde pública, atingindo principalmente lactentes jovens com esquema vacinal incompleto, sendo importante causa de morte nessa faixa etária. A não confirmação laboratorial por testes específicos pode estar relacionada à baixa sensibilidade do método utilizado pelo LACEN/RJ no período do estudo e à qualidade da amostra enviada. Alguns achados laboratoriais inespecíficos podem contribuir para o diagnóstico e prognóstico do caso.