História para boi dormir: alimentação e consumo de alimentos de origem animal em livros didáticos do ensino fundamental

Abstract

O antropocentrismo é uma ideologia que concebe o ser humano como o centro do universo. Este pensamento serve de pano de fundo para o especismo, um tipo de discriminação em relação a indivíduos que não pertencem à espécie humana. O ideal especista por sua vez serve como ponto de partida para um tipo de relação social mais recentemente descrito, o carnismo, um sistema de crenças que legitima e torna ético o consumo de carne e produtos de origem animal. O carnismo é reproduzido através de mecanismos que tornam o consumo de animais normal, natural e necessário, com o auxílio de uma rede de indivíduos, os “criadores de mitos”. Parte desta rede se faz presente no sistema educacional, como no conteúdo presente nos recursos pedagógicos utilizados para o auxílio do processo educacional. Os livros didáticos são um recurso pedagógico consolidado e fonte de material para diversos estudos em relação ao seu conteúdo, mas poucos voltados para o entendimento do consumo de produtos de origem animal. Com o objetivo de investigar o conteúdo referente a alimentação em livros didáticos, foi realizada uma análise de conteúdo onde foram encontrados indícios do carnismo. O consumo de subprodutos animais apesar de apontado como saudável, é também apontado como um fator importante no agravamento da crise climática e como um fator no desenvolvimento de riscos de saúde tais quais câncer e doenças cardiovasculares. Por outro lado, as dietas vegetarianas são amplamente citadas na literatura científica como alternativas viáveis para mitigação de ambas as situações, ainda que não sejam citadas comumente nos livros didáticos. Assim, são necessários estudos para identificar se o carnismo também pode ser observado em outros conteúdos que não correspondentes à alimentação, e também o porquê dietas vegetarianas não são citadas mais frequentemente como viáveis.