Transformações no Recôncavo da Guanabara: Levantamento etnobotânico na Comunidade do Quilombo do Feital, Magé, Rio de Janeiro, Brasil

Abstract

A Baía de Guanabara (BG), localizada no estado do Rio de Janeiro, dentro do bioma Mata Atlântica, é um território rico em biodiversidade ambiental e cultural, que historicamente coexiste com as comunidades tradicionais no seu entorno, como pescadores, catadores de caranguejo, e quilombolas, como a comunidade do Quilombo do Feital, em Magé. Devido a intensa exploração dos seus recursos naturais, desde o período colonial, a paisagem da BG sofreu drásticas transformações ao longo do tempo, sendo o ecossistema manguezal o mais afetado. Diante deste cenário, Área de Proteção Ambiental de Guapimirim (APA de Guapimirim) e a Estação Ecológica da Guanabara (ESEC da Guanabara), foram criadas para a preservação dos remanescentes de mangue da região, compartilhando o território com as comunidades tradicionais que vivem ali. O conhecimento etnobotânico é essencial para o entendimento das interações humanas com as áreas que ainda apresentam vegetação nativa. Desta forma, o objetivo do presente trabalho foi investigar o conhecimento etnobotânico da Comunidade do Quilombo do Feital, assim como classificá-las quanto ao estado de conservação; investigar se existem plantas que não são mais utilizadas devido às transformações na BG e compreender a relação existente entre a comunidade quilombola e a UC presente no território. Todos os informantes são membros da Família Couto Raimundo, uma das fundadoras do quilombo; as informações foram obtidas através da aplicação de entrevistas estruturadas e semiestruturadas e pelas turnês-guiadas. As etnoespécies foram divididas em: plantas utilizadas e plantas fora de uso. As plantas coletadas foram identificadas e depositadas no Herbário de Niterói (NIT). Ao todo, foram citadas 101 etnoespécies, das quais 90 são utilizadas pela comunidade e 11 não são mais utilizadas pela comunidade. Das plantas utilizadas as principais famílias foram: Myrtaceae (8), Malvaceae (6), Asteraceae e Arecaceae (5), sendo 88,3% delas listadas como NE (Não Avaliadas) e 11,7% listadas como LC (Menos Preocupante); dentre as etnoespécies não coletadas destaca-se o uso alimentício (9) e o utilitário (3), apresentando esta última importância econômica e cultural, com a confecção de artesanatos como a esteira de taboa; dentre as plantas fora de uso as categorias medicinais e utilitárias (4) são as mais representativas. O uso das plantas pelos remanescentes quilombolas apresenta uma ligação direta com o conhecimento transmitido de geração em geração, representado na confecção de artesanatos, preparo de chás e banhos de erva. Desse modo, novos levantamentos devem ser feitos no território, para compreensão do conhecimento etnobotânico de toda a Comunidade do Quilombo do Feital.