Estudo comparado das estratégias cibernéticas dos Estados Unidos e da China (2016-2023)

Abstract

A partir do século XXI, as tecnologias de informação e comunicação assumiram um papel central nas sociedades contemporâneas, tornando-se cruciais para a economia global, para o funcionamento das infraestruturas críticas dos estados e para a condução de operações militares. Os ataques cibernéticos, capazes de causar danos significativos e minar as defesas de um país, introduziram uma variável única no cenário de conflitos contemporâneos, transcendendo as limitações cinéticas dos armamentos convencionais. Nesse contexto, os Estados Unidos e a China reconhecem o ciberespaço como um domínio estratégico, desprovido de barreirascinéticas e geográficas, e que influencia operações em todos os outros domínios. A pesquisa seconcentra no ciberespaço, compreendido como sistemas interconectados, infraestruturas e dados, cuja definição varia entre Estados, Organizações Internacionais e acadêmicos, mas que possui como características fundamentais a dificuldade de atribuição de ataques, a intangibilidade das ameaças cibernéticas e a ausência de um arcabouço regulatório internacionalmente aceito. A ciberdefesa emerge como crucial na disputa de poder entre os Estados Unidos e a China, ambos investindo consideravelmente em capacidades cibernéticas para proteger suas infraestruturas críticas contra ameaças cibernéticas. Considerando estes fatores, esta pesquisa visa responder a seguinte pergunta: de que maneira as estratégias de ciberdefesa dos EUA e da China lançadas entre 2016 e 2023 se relacionam? Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é traçar uma análise comparativa de políticas públicas entre as estratégias cibernéticas dos Estados Unidos e da China. São levantadas as principais divergências e convergências nas estratégias cibernéticas dessas potências, influenciadas por suas trajetórias históricas únicas, a maneira com que estes países têm implementado os planejamentos expressos nos documentos e o impacto destas estratégias sobre o sistema internacional. Pautando-se na perspectiva epistemológica da corrente realista neoclássica das relações internacionais, que considera a política externa como resultado de incentivos sistêmicos e fatores internos, a pesquisa conclui, principalmente, que as estratégias cibernéticas dos EUA e da China tem contribuído para as tensões diplomáticas já existentes entre estes atores, que se consideram, mutuamente, fontes de instabilidade no sistema internacional. Trata-se de uma pesquisa majoritariamente qualitativa, que baseada em análises documentais e consultas a fontes secundárias representadas por artigos acadêmicos encontrados, majoritariamente, nas bases de dados Scopus e Web of Science. Quanto à justificativa, esta pesquisa pretende contribuir para os Estudos Estratégicos ao analisar como as duas principais potências militares, econômicas e cibernéticas do mundo reagem aos novos desafios estratégicos relacionados às tecnologias de informação e comunicação e qual o impacto destas ações sobre o sistema internacional.