Uma etnografia da vida cotidiana em condomínios fechados de Itaboraí

Abstract

O presente estudo analisa estratégias de três mulheres ao longo de momentos decisivos em suas trajetórias. No primeiro caso, exploramos aspectos da vida de dona Quitéria, mulher de sessenta e oito anos, natural da Paraíba e residente de Itaboraí (RJ). No segundo, narramos os dezoito primeiros anos da vida adulta de suas duas filhas. Esse período coincide com uma movimentação incomum na cidade. Em 2006, foi anunciado o maior complexo petroquímico da América Latina, que prometia desenvolvimento e oportunidades para a cidade. Contudo, oito anos após o anúncio, as obras foram descontinuadas, frustrando expectativas. A dissertação busca analisar etnograficamente a trajetória e o cotidiano de mulheres que alcançaram demandas importantes, mesmo em um contexto econômico incerto. Almeja-se compreender, de forma original, as recentes dinâmicas que impulsionaram o setor imobiliário, apesar da narrativa de decadência associada ao megaempreendimento abandonado. Para tanto, foram realizadas etnografias em ambientes domésticos durante um ano, somadas a materiais coletados em anos anteriores de interação com as interlocutoras. O estudo questiona uma análise dual presente na sociologia sobre condomínios fechados e desafia a visão linear de ruína ou declínio após a interrupção de grandes projetos. Os resultados indicam a existência de fluxos produtivos diversos e contrastes geracionais na orientação para o futuro e nas táticas adotadas pelas mulheres estudadas.